Nesta terra de pescadores, na Afurada, em Vila Nova de Gaia, sempre se contaram as histórias de quem põe a vida em risco, todos os dias, ou sempre que vai para o mar, para trazer o pescado. As mulheres ficam de coração nas mãos, quando o mar está revolto, e quando chegam os seus homens deitam as mãos aos peixes para rapidamente os venderem. “Olhó peixe fresquinho! Quer ver freguesa?”, dizem de avental posto, andar ligeiro, canastra (ou bacia de plástico) na cabeça e socos nos pés.
Reza a história que, em 1288, o rei D. Dinis deu o foral que criou Vila Nova de Rei, no local onde hoje está a zona ribeirinha da freguesia de Santa Marinha e onde havia um estaleiro. Se vier, o leitor, do lado das caves de vinho do Porto, depois de passar o Cais de Gaia (edifícios modernos com restaurantes, lojas e cafés) vai reparar que, à sua direita, ainda se mantém a construção e reparação de barcos. Mas, é depois de passar por debaixo da ponte da Arrábida, que vai chegar ao coração do que é a freguesia pitoresca da Afurada.
Veja o vídeo:
A Afurada é a mais jovem freguesia do concelho de Vila Nova de Gaia. Começou por se chamar Furada e sempre teve a sua população ligada à pesca. E foi por isso mesmo que ficou conhecida: principalmente pela pesca da sardinha e construção das primeiras traineiras.
Por volta do século XIX é construído o Bairro para Pescadores, com 90 residências, assim como escolas de pescadores e postos de polícia e médico. Tudo o que seria necessário para as famílias viverem aqui. Os moradores, desses bairros, eram também pescadores e vieram na altura da Murtosa, Ovar e Espinho para habitar aquelas casas.
Ainda hoje se destaca o casario coberto de azulejos de variadas cores em algumas das casas dos pescadores. Cá fora, junto das portas, estão os sapatos dos moradores e os fogareiros que denunciam o que vai ser a próxima refeição.
Não é que a Afurada tenha sido sempre um local muito turístico – ou, pelo menos, não como agora o é – , mas sempre fez parte da curiosidade de quem aqui passa. Uma cascata de casas, que se encavalitam, umas em cima das outras, ruas estreitas e muito íngremes, e a predominância do cheiro a peixe e a maresia.
Nos anos 50, quando foi elevada a freguesia, adotou S. Pedro como padroeiro, uma festa que ocorre todos os anos no final de junho (o dia do santo é a a 29 de junho) e que leva a animação a esta terra durante vários dias. No dia maior da celebração há um ribombante fogo de artifício e, no domingo de festa, há uma procissão até ao mar com o andor do Sagrado Coração de Jesus.
E a Afurada dos dias de hoje – que continua a ter os seus barcos a chegarem com o pescado do alto mar – é também um destino turístico. Tem vários hotéis na sua freguesia (ler mais abaixo) e os restaurantes, especialistas em peixe fresco, são também muito concorridos. Basta andar um pouco pelas ruas, junto ao rio, para escolher um deles.
Entre os mais conhecidos estão A Margem (virada mesmo para o rio), o Pescador (nas ruas de trás), assim como a Taberna de São Pedro. Há também muitos cafés, pastelarias e casas com petiscos, para poder relaxar e provar as iguarias locais.
Muitos dos turistas vêm também através da ciclovia, que vem desde a ponte Luís I – passa em frente às caves do vinho do Porto – e desemboca no Cabedelo, ou seja, na foz do rio Douro, do lado de Vila Nova de Gaia. Um local que tem também uma Reserva Natural Local do Estuário do Douro.
A maior parte da minha vida vivi aqui o lado. E quando vivemos ao lado de algo, nem sempre lhe damos a devida importância e atenção. Principalmente quando somos novos. Foi já em adulta que percebi a importância das suas gentes e das suas tradições.
Todos os anos, a Afurada era o local por onde passava, já de madrugada, apanhando a hora de saída dos pescadores para o mar. Na noite de S. João apanhávamos o barco (já aí era o Flor de Gás!) para vir ter à margem de Vila Nova de Gaia, depois de acabar a folia no lado do Porto.
Atualmente, as freguesias de Santa Marinha e São Pedro da Afurada estão juntas e partilham por isso os pontos turísticos, tal como as caves de vinho do Porto, a Igreja Matriz, do século XV, o Mosteiro da Serra do Pilar, a Capela do Bom Jesus de Gaia, o Convento de Corpus Christi e a Capela do Senhor D’Além, por exemplo.
A que deve estar atento na Afurada?
Aos mosaicos e azulejos nas casas, que representam barcos e santos, e apelam a que os homens venham sãos e salvos para as suas casas. À vezes, basta levantar as cabeças para ver essas imagens que falo. Se for durante a manhã, poderá apanhar a chegada de alguns barcos, rodeados de gaivotas, que denunciam o peixe fresco a bordo.
O QUE FAZER NA AFURADA?
– Uma das melhores vistas para a Afurada e para o rio Douro é no topo de uma colina, junto aos hotéis (como a vista da fotografia abaixo). Chamam-lhe a Afurada de Cima.
– Visitar o Centro Interpretativo do Património da Afurada: que conta toda a história da Afurada e tem objetos ligados ao mar, desde barcos típicos a vestuário, e documentos, vídeos e fotografias, de forma a expôr as tradições piscatórias e a identidade local. Está num local onde estavam os antigos armazéns, recriando a arquitetura original. Abriu em março de 2013.
Morada: CIPA, Centro Interpretativo do Património da Afurada
Rua António dos Santos, 10, São Pedro da Afurada, Vila Nova de Gaia
Telefone: +351 227 812 724
Horário: todos os dias, 10h00-12h30 e 13h30-18h00
– Ir até ao Mercado da Afurada, onde é vendido o peixe e legumes e frutas frescos. É pequeno mas vale a pena passar por lá e sentir o ambiente.
– Flor de Gás é o barco que faz as travessias entre as duas margens, do Porto para Vila Nova de Gaia
Travessia fluvial do cais de Lordelo para a Afurada: segunda a sábado das 06h00 às 21h00; domingo das 8h00 às 21h00 (de 15 em 15 minutos)
– Na frente de rio estão os armazéns (onde os pescadores guardam o seu material de pesca), os barcos e os pescadores, muitas vezes, a tratarem de remendar as redes de pesca.
– O Lavadouro público junto do rio tem já muitas décadas de história. É onde as mulheres, ainda hoje, vão lavar a sua roupa e, depois, a colocam no estendal, a apanhar sol, na frente do edifício. Há uns anos, o lavadouro foi coberto para que as lavadeiras não passassem tanto frio nos meses de inverno
– Ao lado do lavadouro e dos estendais com roupa está um parque infantil
– O edifício da Douro Marina – além de ser uma marina – está na junção das freguesias da Afurada e Canidelo e é um sítio muito aprazível, com cafés, restaurantes, lojas e esplanadas.
– É nesta freguesia que está também o Arrábida Shopping. Além das lojas óbvias e cinemas, tem uma esplanada, ao ar livre, com uma vista muito bonita sobre o rio Douro.
Hotéis na Afurada com vista para o rio Douro:
– Hotel ibis Budget Porto Gaia
– Hotel Ibis Porto Gaia
– Novotel Porto Gaia
– Hotel Mercure Porto Gaia
COMO CHEGAR À AFURADA (além do barco que já falamos e que liga as duas margens do Porto e de Vila Nova de Gaia):
Camionetas da Espírito Santo:
– 14 – Porto (Batalha) – Afurada – Porto
– 18 – Boavista – Afurada – Boavista
– Se for de carro, faça toda a marginal junto ao rio. Não há como se enganar.