Kumarakom é a terra natal de Arundhati Roy, conhecida autora do livro “O Deus das Pequenas Coisas”, e é aqui que continua a nossa aventura em Kerala, na Índia.
No dia anterior fizemos Kayak (com a Calypso Adventures), curso de cozinha indiana (onde aprendemos a fazer a sobremesa de banana frita, entre outras iguarias) e visitámos o templo de Akkarakalam. À saida do templo, um homem banhava-se nos canais. Mergulhava todo o corpo num ritual que repetia, cuspindo a água que bebia em cada mergulho.
Uma família aproxima-se de nós e o avô pede à pequena neta para nos cumprimentar com um doce aperto de mão. Pedi para a fotografar mas decidi que devia ser ela a tirar uma selfie. Peguei no seu pequeno dedo e cliquei na foto. A sua expressão mudou quando se viu no ecrã do telemóvel. Ficou muito séria e curiosa. Quis experimentar de novo. Disse adeus e foram embora.
Nesta região, difícil é haver gente que não queira tirar fotografias connosco. Em geral, os habitantes de Kerala lançam sempre um sorriso e, se lhes pedirmos para tirar fotos, estão quase sempre disponíveis, de preferência se forem selfies. Os sorrisos são sempre verdadeiros e… lindos!
Chegámos demasiado cansados e tarde ao Abad Hotels & Resorts mas, de manhã, a vista junto da piscina era maravilhosa, sobre os canais (ou chamadas Backwaters de Kerala por onde passam os barcos-casa).
Durante o dia, passámos ainda por um outro resort com vista para os canais: KTDC Water Scapes Kumarakom. Conseguimos assistir a um bonito pôr do sol daqui.
De tarde, demos entrada em mais um local espetacular: o Zuri Resort & Spa, que tem um mega-lago no interior e pequenas vilas muito espaçosas! Só na casa de banho existiam 3 locais para o banho: a banheira, um chuveiro interior e um exterior, num pequeno jardim tapado. A vista da piscina é de tirar o fôlego. Se ficarem aqui instalados façam uma massagem no Spa (por 30€ pode relaxar numa massagem completa de uma hora) ou andar nos barcos e gaivotas que estão no lago.
À noite, tivemos uma das maiores experiências desta viagem (até agora) ao participarmos num festival Hindu, a uns 15 minutos a pé do nosso resort. Para entrarmos na área perto do templo tivemos, tal como é habitual, de tirarmos os nossos sapatos. A celebração dura vários dias, com direito a feira de diversões instalada ali ao lado, barraquinhas com venda de comida, roupas, artigos para a casa, bijutaria, etc…
Quando chegámos ao festival Hindu estava um elefante com quatro homens em cima empunhando as oferendas à Deusa. No chão, vários homens tocam tambores e cornetas e assim vão para dar uma volta, em redor do templo, enquanto se fazem as preces.
A coordenação dos tambores e o crescendo da música leva os fiéis a fecharem os olhos. Acaba por ser algo não tão privado como noutras religiões. Estão ali, de pé, juntos em frente ao Templo, sem sapatos, a fazerem as suas preces. E estivemos ao seu lado sem qualquer problema… apenas protestam com quem não tirar os sapatos à entrada.
Quando a celebração acaba, a festa continua. E se temos curiosidade em saber coisas dos habitantes locais, também eles têm curiosidade em nós. Principalnente em saber de onde vimos. Um homem de barba branca e todo vestido de branco vem ter connosco e pergunta de onde somos e se queríamos ter uma foto dele.
– Querem tirar-me uma foto? Podem tirar à vontade. Eu sou muito conhecido… sou ator de filmes de Bollywood!
Quase ao mesmo tempo um outro homem, mais velho, vem ter connosco a perguntar se tínhamos gostado da celebração.
– “Bonita, não é?”, pergunta retoricamente enquanto já se vai afastando do grupo. Diz, entretanto, que foi um herói de guerra e deseja-nos uma boa viagem.
Mais à frente, enquanto fotografo os vendedores da feira, duas mulheres aproximam-se de mim, de forma meia envergonhada. A mais nova começa a conversa.
– Olá, como te chamas?
– Olá, chamo-me Susana.
– Bonito nome! (É um nome usado em filmes de Bollywood, por isso estou sempre a ouvir que é um bonito nome).
– E o teu?
– Harishna (ou assim pareceu ser, já tinha perguntado duas vezes e não ia insistir mais).
– Esta é minha filha, é enfermeira – diz a mulher mais velha com grande sorriso orgulhoso.
– E tu, que fazes?
– Bem, sou jornalista e escrevo sobre viagens. Estou aqui com um grupo para escrever sobre Kerala.
– De onde és?
– Portugal, conheces?
– Sim… Sabes a nossa língua?
– Só duas palavras… Olá e obrigada.
Namasté e Nanni (em Malayalam).
Riram-se e fizeram o gesto com a cabeça de “OK, melhor isso que nada”
– Estás a gostar da nossa terra? E da nossa comida? Gostas de comida picante?
(Depois de responder a tudo, percebi que já estava atrasada para ir ter com o grupo)
– Bem… tenho de ir o grupo está à minha espera.
– E o teu grupo tem muitos países?
Achei melhor mostrar… Vieram comigo e as perguntas recomeçaram até partirmos para o autocarro.
É incrível esta curiosidade que os indianos (ou pelo menos os habitantes de Kerala) têm em relação aos estrangeiros.
Regressámos ao resort ainda com o fogo de artifício da festa a colorir o céu nas nossas costas.
Viver no meio da natureza, como ficamos no The Zuri Resort, é acordar com os pássaros a cantar (e muitos corvos) mas também é ter um morcego dentro do quarto mortinho por sair. Não foi fácil pô-lo na rua, depois dos voos rasantes que passava na cama enquanto eu dormia. Que susto! Mas devia ser por isso que não havia nenhum mosquito naquele quarto.
O Brefnei, da Irlanda, já deu a volta ao mundo em bicicleta, mas não passou em Portugal – sim, já lhe disse que não era válida a terminologia “volta ao mundo” se não passou em Portugal – fez uma playlist com músicas dos países que estão aqui representados. Estou a escrever este texto no autocarro enquanto ouço o “Non, je ne regrette rien” pela voz da Edith Piaf. Qual escolhi para mostrar a música portuguesa? O “Desfado” de Ana Moura, mas amanhã escolho os Buraka Som Sistema para pôr o pessoal a mexer!
Nota:
O Viaje Comigo é o único site que representa Portugal nesta terceira edição do Kerala Blog Express. Um evento e orgajização do Turismo de Kerala, na Índia, que convida 30 bloggers e escritores de viagens de 27 países para conhecer e divulgar esta região indiana.
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